2.9.09

Carta de Nuno Thales da Hora a Julian Gasmar


Julian, de fato tens asas e por vezes mirei o céu crendo ver-te rodopiar pelos ares. Mas tu não voas... és como a gralha que foge em corridelas após plantar uma semente porque não quer perdê-la de vez.
Julian, as araucárias brotam, crescem e morrem. Rompem o chão sob força doída tentando rasgar o céu. Jamais o conquistam. As araucárias dão sementes, mas cabe às gralhas recolhê-las e plantá-las. Araucária é a vida certa, de eira e beira.
As gralhas, estas voam; uma rota nova a cada bater de assas. São aos bandos, porém solitárias e que mergulham no azul como se entrassem no mar a ser descoberto. Ali e acolá elas semeiam as araucárias, plantam essa semente que cresce e floresce. Gralha é essa curva no céu.
Tu és isso, uma gralha; aceite. Admita que tens medo de alçar voo, de aproximar-se do sol. Nunca saberás ao certo quem é, o que está sentindo e viverá sob a incerteza. É a sua sina. Estranha, mas sua.


Imagem de autoria desconhecida.