21.6.12

Ele partiu

Partiria amanhã, não cedo, mas quando a noite começar a cair e o breu ofuscar com lentidão o dia. Embora a felicidade fosse imensa, havia um resquício amargo como se algo não terminasse tão bem quanto pretendia. Talvez fosse aquela rosa na roseira que não ousou cortar. Às vezes dizia a si “quero me ir daqui”, numa clara certeza de que algo de si teimava em ficar. Olhava aquele lugar e aquelas pessoas e tinha a confirmação de que já protelara demais a partida. Mas esse calor agridoce no coração o incomodava: não era saudade tampouco tristeza; não sabia.
De fato não sabia que após tantos anos e tantas pessoas inevitavelmente havia ficado um pouco de si em cada uma daquelas paredes e daquelas pessoas que se construira uma ligação eterna entre ele e o lugar e as pessoas. E estariam sempre presentes diante do outro, a despeito da ausência e a despeito da partida.


Imagem de autoria desconhecia.

22.5.12

A rosa e a praia


Por que não demos certo? Eu queria saber... parecia que a gente combinava e que a dita luz dos nossos olhos haviam se encontrado. Me lembro bem disso: te vi longe e a cada piscar daquela luz metálica fomos ficando mais próximos e então houve aquele beijo, o primeiro. E depois houve outros beijos e só então você me perguntou meu nome e eu o seu. E ali nós ficamos juntos até o final da festa.
E também houve aquela viagem em que fui ao teu encontro; as duas horas de ônibus mais pareceram as tais vinte horas de liteira. Ficamos juntos por poucos dias, que pareceram eternos. Te recebi em meus braços e senti teu corpo nu junto ao meu – edificando o templo do nosso amor maior.
E houve aquela tarde e aquela manhã – em que o sol emergia do mar, tomando conta de seu reinado, expulsando a lua de seus domínios junto com a última estrela teimosa da noite – e nós dois olhávamos para o mar e para o horizonte com a certeza de que aquele mundo vasto mundo não era maior que o nosso espaço para sonhar.
E houve aquela rosa, que eu te dei. Você a deixou, definhando, na praia? Mas antes disso, preciso saber: por que não demos certo? Me responda... não te imploro mas te peço, pois sempre que miro teu olhar reencontro o passado aferrado à doce lembrança de ti.

11.3.12

8º Prêmio Rubens Mazza e Chuchu de Ouro

Interrompo a programação do blog para anunciar os vencedores dos prêmios Rubens Mazza e Chuchu de Ouro, do 12º Putz:



PRÊMIO RUBENS MAZZA

Melhor Filme Trash: sem premiados
Melhor Filme: V de Vinhada
Melhor Direção: Felippe Degaut (V de Vinhada)
Melhor Ator: Bruno Santana (2012: Uma odisseia em busca do campus perdido)
Melhor "Atriz": Secretária Leopoldina "Leopoldo Villa" (V de Vinhada)
Melhor Ator Coadjuvante: Toni Scharlau Vieira (por todas as participações)
Melhor Atriz Coadjuvante: Recepcionista da Reitoria (2012: Uma odisseia em busca do campus perdido)
Melhor Ator Inútil: Mário Messagi Júnior (V de Vinhada)
Melhor Trilha Sonora: Le Decom Noir
Melhor Roteiro: V de Vinhada
Melhor Fotografia: Le Decom Noir
Melhor Edição: Le Decom Noir e V de Vinhada
Melhor cena "Ai, mi fodi!”: Travesti em Big Putz Brasil

PRÊMIO ESPECIAL MULETA DE OURO "O melhor momento é agora!" (em homenagem a Levi Crissi): sem premiados


PRÊMIO CHUCHU DE OURO

Pior Filme: Putz Rock
Pior Direção: André Andrade (Putz Rock)
Pior Ator: Protagonistas de 12: A Maldição do Duende
Pior Atriz: Franciele Schramm ( Vai Dar Tudo Certo)
Pior Clichê: Big Putz Brasil
Pior Edição de Som: 12: A Maldição do Duende
Pior Roteiro: Vai Dar Tudo Certo

9.1.12

A criação de Curitiba


No princípio havia o nada e Deus disse: “faça-se Curitiba” e Curitiba foi feita. Então Deus separou a terra das águas. Às terras, Deus jogou cimento e depois esburacou e chamou de “rua (sem calçada)”, as águas Deus colocou no céu e chamou de “chuva” e houve uma tarde e uma manhã.
No segundo dia, Deus criou as árvores, matos e lagos e chamou-os de Parque Barigui, Jardim Botânico, Parcão do MON. E viu que era bom. Depois Deus criou a praça Santos Andrade, Tiradentes, Rui Barbosa e todas outras e também viu que era bom. Então Deus disse: “que se encham as praças de pombas e os parques de ratazanas e quero-queros e houve uma tarde e uma manhã”.
Ao terceiro dia Deus fez um luzeiro e o colocou no céu e disse: “ardei feito o fogo e esturricai Curitiba nos dias sem chuva” e viu que era bom. Então Deus criou o verão, outono, inverno e primavera e a neblina e disse: “alternai-vos e sucedei um ao outro em quinze minutos – todos os dias”, e viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã.
No quarto dia Deus criou os manos, os playba, os coxas, os velhos da rua XV, os pedintes de ônibus e todos os tipos de curitibanos. Aos ajuntamentos de curitibanos Deus chamou Boqueirão, CIC e Inter 2. Então Deus criou a passagem a R$ 1,00 e disse: “ide e infestei os parques e as praças todos os domingos”. Houve uma tarde e uma manhã.
No quinto dia Deus criou o natal, o ano-novo, o carnaval e a BR 277 e disse: “faça-se Caiobá e Guaratuba e as praias lotadas, a rodovia engarrafada, o bicho de pé e o pedágio” e assim foi feito. Houve uma tarde e uma manhã.
No sexto dia, Deus criou o mau-humor e o colocou dentro do elevador, do tubo de ônibus e repartições públicas e disse: “curitibanos, falareis leiTE quenTE e não direis ‘bom dia’ ao vizinho ou porteiro; reclamarais do tempo, do trânsito e da cidade, mas só vós o fareis”. E viu que era bom. Foi uma tarde e uma manhã.
No sétimo dia, Deus contemplou sua obra, se retirou e nunca mais voltou.

Imagem: Centro de Curitiba (autoria desconhecida)