29.7.10

Pão repartido


“Cedo e já bebendo, mulher?”
“Não enche o saco”, respondeu embolando-se nas palavras.
“Me dá um pouco.”
Passa a garrafa.
“Ó, trouxe um pão”, diz ele.
Ela arranca um pedaço.
“O teu, cadê?”
“Só consegui um”.
Ela divide o pão ao meio. Oferece-lhe. Ele aceita.
“Vai dar pra enganar a fome.”
“Talvez a gente consegue mais depois.”
“A noite foi fria, né.”
“Foi...”
“Dorme abraçado comigo esta noite? Para espantar o frio.”
Ele assentiu.
“Mas é bom a gente arrumar uns papelões a mais.”



Imagem de Maik Blume.

20.7.10

Todos


Na minha vida, as pessoas vão e vem, passam e deixam marcas. Meus amigos são os que ficaram, não só deixam marcas, como as reescrevem todos os dias. E sou feliz, porque tenho os amigos certos para cada momento da vida.
Para lembrar minha infância, as loucuras do tempo de criança, é o Diego, as Anas (Lazier e Godinho), a Day, o Eder. Para lembrar a adolescência e aquele sentimento de irmandade, é o Bruno (Angeli), o Will, o Ítalo. Para lembrar os anos de faculdade, o Eduardo, Luíza, Fabiane, Juliana, Alexandro. Para lembrar os outros anos de faculdade, as conversas sobre sexo e as baladas, a Dri, a Fer, a Liza e a Val.
Para lembrar as noites literárias, as piadas internas e os grandes conselhos sensatos, meu amigo Carlos. Para os dias de desabafo e de riso solto, Rafael. A amiga poetisa: Fran. Para a amizade de futuro certo, de expressão sincera e dedicada, Gui e Mel, a dupla dinâmica. Para a confidência dos sucessos e infortúnios, Ana (Cichon) e Leandro, vulgo Shrimp. Clarissa, a eterna duplinha.
Aline, Cássia, Juliana (Blume), Luiza e Bruno (Calzavara) são as companhias certas, a risada divertida, as loucuras inventadas, a certeza da amizade no futuro.
Os amigos distantes: Vinicios, Osmar, Romulo, Caloan, Junior. O amigo literário: Gustavo. Os que chegaram agora, mas já ficaram: Cayo e Humberto e os mestrandos.
Os que a cada dia pensam em mim.
Os que me fazem feliz.
Os que calidamente edificam minha vida.
Os que me elogiam e criticam, me apoiam e pedem apoio, os que choram e riem comigo.
Os que constroem meu mundo.
Os que estão, para sempre, no altar-mor do meu coração.
Todos vocês.



Imagem de: http://troisiemeoeil.org/

8.7.10

Meia rosa


Enquanto ela dormia, ele tomou uma rosa em mãos. Escolheu a de flor maior e mais bonita. Com o canivete, talhou-a ao meio, como que dividindo as pétalas em duas partes. Dilacerou uma das metades cutucando com a ponta afiada; as pétalas mais fracas se desprenderam, as maiores ficaram rasgadas.
Depositou a flor na mesa e caminhou até ela. Conferiu se os dois nós na corda estavam bem apertados. Acendeu um cigarro e esperou que ela acordasse. Nesse tempo, abriu o revolver e girou a roleta algumas vezes; tirou e recolocou as balas com meticulosa paciência. Pegou a rosa e ficou admirando a flor.
Quase três horas depois, ela despertou ainda atordoada da droga que ele lhe dera. Tentou falar alguma coisa, mas balbuciou inaudível. Quando fixou a imagem, a tanto custo, viu-o, brincando de engatilhar o revólver.
Tentou se levantar e correr e descobriu que estava amarrada à cadeira.
Gritou. Alto.
Ele empunhou o revolver, encostou-o em sua testa, engatilhou-o e lhe acariciou seu rosto com a rosa.
Ela gritou. Agitou a cabeça.
“Por que?...”
Ele passou a rosa no sobre seu lábio e disse:
“Tu, amor, me mataste primeiro”.


Imagem de Jesse Chan Norris.