8.7.10

Meia rosa


Enquanto ela dormia, ele tomou uma rosa em mãos. Escolheu a de flor maior e mais bonita. Com o canivete, talhou-a ao meio, como que dividindo as pétalas em duas partes. Dilacerou uma das metades cutucando com a ponta afiada; as pétalas mais fracas se desprenderam, as maiores ficaram rasgadas.
Depositou a flor na mesa e caminhou até ela. Conferiu se os dois nós na corda estavam bem apertados. Acendeu um cigarro e esperou que ela acordasse. Nesse tempo, abriu o revolver e girou a roleta algumas vezes; tirou e recolocou as balas com meticulosa paciência. Pegou a rosa e ficou admirando a flor.
Quase três horas depois, ela despertou ainda atordoada da droga que ele lhe dera. Tentou falar alguma coisa, mas balbuciou inaudível. Quando fixou a imagem, a tanto custo, viu-o, brincando de engatilhar o revólver.
Tentou se levantar e correr e descobriu que estava amarrada à cadeira.
Gritou. Alto.
Ele empunhou o revolver, encostou-o em sua testa, engatilhou-o e lhe acariciou seu rosto com a rosa.
Ela gritou. Agitou a cabeça.
“Por que?...”
Ele passou a rosa no sobre seu lábio e disse:
“Tu, amor, me mataste primeiro”.


Imagem de Jesse Chan Norris.

3 comentários:

Katrina disse...

CARAMBA
que final repentino!
Genial, mesmo.

Márcio Bergamini disse...

Brilhante!

Laura Kerstenetzky disse...

Se matou, não era amor.