21.6.12

Ele partiu

Partiria amanhã, não cedo, mas quando a noite começar a cair e o breu ofuscar com lentidão o dia. Embora a felicidade fosse imensa, havia um resquício amargo como se algo não terminasse tão bem quanto pretendia. Talvez fosse aquela rosa na roseira que não ousou cortar. Às vezes dizia a si “quero me ir daqui”, numa clara certeza de que algo de si teimava em ficar. Olhava aquele lugar e aquelas pessoas e tinha a confirmação de que já protelara demais a partida. Mas esse calor agridoce no coração o incomodava: não era saudade tampouco tristeza; não sabia.
De fato não sabia que após tantos anos e tantas pessoas inevitavelmente havia ficado um pouco de si em cada uma daquelas paredes e daquelas pessoas que se construira uma ligação eterna entre ele e o lugar e as pessoas. E estariam sempre presentes diante do outro, a despeito da ausência e a despeito da partida.


Imagem de autoria desconhecia.