8.1.11

A rosa e o muro


Era um muro de quase três metros de altura e uns dez de extensão, duma pintura descascada escondida por uma roseira que já atingia o primeiro metro crescido. Avistada de longe, mais parecia um pedaço de nada salpicado de pontinhos vermelhos. E, mesmo de longe, Julian Gasmar sabia que eram rosas e este era o motivo dele passar em frente aquela casa todos os dias.
Apenas isso, ver as rosas; sem roubar-lhe um simples botão. Vê-las lhe enchia o peito duma calma corriqueira e uma breve felicidade estendida pelas horas seguintes.
Num desses dias, notou algumas pétalas rolando pelo chão algumas casas antes. Quando fitou o muro realizou que a roseira havia sido podada, decepada quase à raiz. Pelo chão as pétalas se misturavam aos galhos e folhas. Já distante, um jardineiro ia-se, exibindo a tesoura às costas na altura da cintura.
Julian Gasmar não se abateu: deixou o local e retornou em meia hora, munido de tinta e pincel. Algumas horas depois, o muro havia recuperado todas suas as rosas – só que agora ninguém seria capaz de rouba-las.


Imagem de autoria desconhecida.