29.7.09

Acidente


Diante do estrago, perguntou o que houve com o carro.

- Absinto muito, pai.



Imagem de American Grey.

20.7.09

Espero-te


Espero-te nas esquinas de cada rua, espero-te nessas horas nuas, extensas e paradas que o dia impôs a mim. Espero tua vinda sorrateira, teu abraço apertado, teu beijo furtado. Espero-te às manhãs de neblina, desenhando tua silhueta à névoa branca. Espero-te às tardes, quando vejo a falta da tua sombra ao lado da minha. Espero-te à noite, quando sinto o teu vazio no meu lençol e o calor que deixaste a se esvair.
Espero teu corpo junto meu, conjugado uma só alma, suando um só calor, embolando-nos num só amor. Espero-te nua, pura e entregue a mim. Espero-te para beijar-te em carícias, acariciar-te em arrepios, arrepiar-te em desejos. Espero-te para nossa viagem eterna, às terras de sonhos e fantasias, aos devaneios que o amor nos leva a passear. Espero teu amor-maior, templo de minha devoção; espero teu jogo, casa de minha perdição; espero teu corpo, altar de minha remissão.
Espero-te pelo ontem, espero-te pelo hoje, espero-te ao eterno-sempre. Espero-te inequívoco do amor que me inebria de ti; espero-te certo da vida minha que é ao teu lado; espero-te douto da tua vinda, para destravar minhas horas paradas, douto de que tu chegarás e tomarás minha mão, guiando minha caminhada, ao teu lado. Espero-te.




Imagem de autoria desconhecida.

14.7.09

Porque sentiram o frio


Desceu do ônibus e a seguiu. Ela firmou o passo e não o reparou; apenas outra pessoa que rumava a casa. Notou-o quando ele a ultrapassou; pouco pôde ver: estava de costas, usava luvas, gorro e cachecol. Ele a investigara melhor dentro do ônibus; embora agasalhada devido ao frio, as roupas delineavam seu corpo e isso o excitou. Só que não estava apenas excitado: dalgum modo também ficara desconcertado.
Não sabia onde ela morava; andar a sua frente o impedia de ver se ela virasse numa transversal ou entrasse numa das casas da rua. Reduziu o passo, deixando-a passar. Foi quando ela estranhou e o fitou. Ficou apreensiva, porém não receosa. Ele apertou o passo e a alcançou. Tomando-a pelo braço, disse: espere.
Ela virou-se e sentiu-se seduzida pelo olhar dele. Mal teve tempo recobrar as noções: ele a beijou; ela entregou-se àquele beijo. No seu íntimo pensava que era loucura beijar um estranho, mas aquele homem lhe oferecia segurança e seu beijo arrepiava-lhe a nuca.
Ele percorreu as curvas do corpo dela com as mãos. Atingiu as nádegas e apertou-a em seu corpo. Ela estremeceu e soltou um suspiro abafado; pôde sentir o volume Ele a conduziu contra um muro coberto por hera, mesclando-os à vegetação e escorregou os lábios por seu pescoço. Ela abraçou aquele homem e deixou as mãos vagarem sem rumo naquele corpo. Levantando a blusa dela, ele atingiu os seios. Mordiscou-os. Ela gemeu. Já não havia mais o frio. As mãos dela, dentro da calça dele.
Ele desceu à sua barriga, em beijos e carícias... e abriu o zíper de sua calça. Estava molhada... e quente. Ele retomou o trajeto, beijando e lambendo seu corpo e teve seus lábios escondidos num beijo. Ela virou-se e os corpos se conjugaram numa só alma. Ao clímax, sentiu as horas paradas, sentiu o mundo estacionado, sentiu o corpo amortecer, sentiu a pele queimar, sentiu o corpo dele suar, e um sentiu o outro gozar.
Ela a virou e, ainda explorando seu corpo, acolheu-a num abraço firme. Afagou sua nuca. Beijou-a. Ela ainda tremia, estremecida em devaneio. Ele fechou-lhe calça, abotoou-lhe o casaco e a acariciou. Depois, se recompôs.E continuaram a andar, abraçados, porque sentiram o frio voltar e assim um esquentava o outro.



Imagem de autoria desconhecida.

5.7.09

Não te amar mais


Não é o tempo que não passamos juntos, nem os passeios que não fizemos, nem as horas que não foram paradas para nós. Não, minha querida, não... Não são abraços que não trocamos, os filmes que não vimos, as risadas que não provocamos um no outro. Não são os olhares não trocados, as viagens não realizadas, as certezas não firmadas, o futuro não planejado. Não... não... nada disso dói.
Dói, dói intensamente o tempo que não passaremos juntos, os passeios que não faremos, as horas que não pararão por nós, os abraços que não trocaremos mais, os filmes que não veremos, as risadas que não provocaremos um no outro, os olhares que não trocaremos, as viagens que não realizaremos, as certezas que não mais serão firmadas... o futuro que não planejaremos. É isso que dói e talvez compreendas por que é tão doloroso ter de não te amar mais.




Imagem de: feudalge.de