20.5.11

Coleções


Noite de tempestade e a moça vestia sua capa de chuva transparente para ir ao quintal. Aliás, no armário guardava sua coleção de capas de chuva. No mesmo armário estava a coleção de guarda-chuvas, e ela tomou um azul-marinho. Correu ao quarto e tomou um pequeno frasco, que estava vazio em meio a outros cheios, uns de areia – coleção das areias das praias em que esteve –, uns de terra – coleção das fazendas e floresta por onde passou –, outros de grama, dos piqueniques que já lanchou. Tudo colecionava, canetas, borrachas, marca-páginas, despertadores, clipes, bloquinhos de nota, CDs, botões, esmaltes, chaveiros, moedas e selos. E também tampinhas de garrafa. Dirigiu-se até o portão de entrada e retirou do bolso um pequeno frasco deixou-o à chuva.
“O que faz?”, perguntou alguém.
A moça se assustou, não viu a pessoa se aproximar. Quando a fitou, teve dificuldade em enxergar com nitidez, por conta da chuva. Viu apenas um rosto muito pálido, coberto por uma capa preta tão longa que a barra arrastava no chão. Mesmo assim, respondeu simpática:
“Pego um pouco de chuva, para minha coleção de chuvas”.
A pessoa riu e disse:
“Também estou aqui por causa de minha coleção”.
A menina ficou interessada, empolgada perguntou:
“E o que coleciona?”
“Vidas”.
E a pessoa na capa preta foi embora com uma para sua coleção.

Imagem de autoria desconhecida.

9.5.11

A rosa e a poeira




A brisa logo virou vento forte, ainda agradável a Julian Gasmar. Trazia aquele aconchego de que tanto gostava. Mas era na curva da estrada que o vento arrastava a poeira do passado e no meio dela, bailando desconcertante, a pétala de rosa ressequida.


Imagem de autoria desconhecida.