1.2.11

Da fábula da vida


Sentiu o toque no rosto e de instinto tentou abrir os olhos para atender, mas a luz feriu a visão. Tentou mais uma vez vencer o clarão. Desistiu. Sentiu de novo o toque e também um arrepio de frio, como se o ar do lugar o envolvesse e nele se aconchegou. Mais uma vez o toque na face e os olhos ainda se protegiam da luz. O peito reclamou em dor: faltava-lhe ar. Mais uma vez o rosto foi tocado e ouviu um barulho, sem conseguir decifrar o que era. Alguém chamava.
“Psiu... psiu...”
Direcionou a cabeça ao som, mas parecia atordoado, talvez pela luz em excesso e o ar em falta.
“Acorda menino...”
Abriu a boca na tentativa de aspirar o máximo de ar possível e sentiu a maior dor que haverá de sentir na vida. Como se um soco lhe tivesse atingido o diafragma e a dor explodiu pelo corpo. O diafragma saltou num espasmo e o pulmão encheu de ar e então chorou, um choro seco, doído, intenso.
“Isso menino”.
E descobriu a vida e o carinho nos braços da mãe.


Imagem de autoria desconhecida.