28.3.08

Viajo, viajo, viajo


Há outra Curitiba perdida, a Curitiba de to-dos os dias: a Curitiba da Rua XV, do Largo da Ordem, do Jardim Botânico, do Parque Barigüi, do prédio histórico da Uni-versidade Federal do Paraná. A Curitiba do Teatro Guaíra, da Ópera de Arame, da Ponte Preta.
A Curitiba dos imigrantes portugueses, alemães, poloneses, italianos, ucranianos, japoneses, sírios e libaneses. A Curitiba da vina, do penal, do piá, da gasosa, dos polacos, do chineque, do papel de borrão.
A Curitiba perdida do Dalton Trevisan, a Curitiba boêmia do Paulo Leminski, a Curitiba lírica da Helena Kolody, a Curitiba simbolista do Emiliano Perneta; a Curitiba paranista do Alfredo Andersen, a Curitiba do contemporâneo Poty Lazzarotto.
A Curitiba do barreado, do pinhão, da polenta com frango frito, da bolacha Maria, da gengibirra e da bala Zequinha. A Curitiba do Mercado Municipal, do circuito gastronômico de Santa Felicidade, da confeitaria Schaffer, do Bar do Alemão.
A Curitiba da Borbleta 13, do Oil Man, da Gilda, da Maria Bueno, do Homem do Gato, dos Cavalheiros da Boca Maldita. A Curitiba “província, cárcere, lar, que com amor, viajo, viajo, viajo”.

25.3.08

Pueril alegria


Era esquisita a sensação do couro nos seus pés, parecia pegajoso, que coçava. Eles brilhavam, novos, reluziam a luz foscamente. No pisar com um dos pés era como andar sobre espuma e era como se ele nem pisasse de fato; ele andava como astronauta pisando cada pé por vez, tocando a planta dos pés, do calcanhar aos dedos.
Os pés esquentavam, dum calor aconchegante; correu... pulou... correu e pulou, pequeno polegar a ganhar um mundo desconhecido. Rodopiou, saciou, quedou estripulias. A pueril alegria de vestir o primeiro par de calçados aos oitenta anos.


Imagem: Um par de sapatos, de Vicent Van Gogh.

21.3.08

Suicídio


Sonhou que se matava e acordou assustado, tenso, com o gosto da pólvora na boca. Refeito do sonho, sentiu o sangue escorrer-lhe na nuca.

Imagem: O suicídio, de Eduard Manet.

19.3.08

O anjo torto


Depois de terminar cada boneco, o criador deixou-os em repouso numas formas na grande mesa da criação a tomarem viço. Tempo depois algum anjo os levaria ao forno da vida. Mas nesse pequeno intervalo, entrou no local um anjo torto e, escolhendo aleatoriamente, começou a deformar alguns bonecos; entortou a perna de um, encurtou a de outro, virou o braço de mais outro, torceu a mão do que estava mais adiante, tirou um pouco do braço do próximo. Após isso, levou as formas à fornalha, para que cada boneco, os perfeitos e os defeituosos, ganhassem vida.

Imagem de Nuno Souza (detalhe).

13.3.08

Me dê a mão


Vem, disse a senhora estendendo a mão. O velho esticou o braço, descobriu-se as pernas e levantou-se. Com o passo cambaleante, tomou sua mão, olhou nos olhos da senhora e sussurrou meu amor. O filho, sentado numa cadeira ao lado do leito do pai, apenas viu o velho estender a mão, balbuciar e deixá-la desfalecer em sinal do corpo sem vida.


Imagem de autoria desconhecida.

6.3.08

O último retratinho


No final, quis levar da vida o último retratinho. A cadeira do lado ficou vazia, como sempre esteve.



Imagem de autoria desconhecida.

1.3.08

Prêmios Rubens Mazza e Chuchu de Ouro


Interrompo a temática do blog para outorgar os Prêmios Rubens Mazza e Chuchu de Ouro para os filmes do 8º Prêmio Universitário Trash Zé do Caixão - Putz.


PRÊMIO RUBENS MAZZA
Melhor Filme Trash: Pizza Hurt
Melhor Filme: Lei da Atração
Melhor Direção: Lei da Atração
Melhor Ator: Guilherme (Pizza Hurt)
Melhor Atriz: Gabriela Mateos (Lei da Atração)
Melhor Ator Coadjuvante: Freddy (Patacoada)
Melhor Atriz Coadjuvante: Cynthia Benini ([Des]caminhos do amor)
Melhor Ator Inútil: Barwoman em Lei da Atração
Melhor Cena: Bin Laden (A Gargalhada)
Melhor Cena "Ai, mi fódi!": Romano e Hippieta
Melhor Trilha Sonora: Lei da Atração
Melhor Roteiro: Lei da Atração
Melhor Edição: Lei da Atração
Melhor Edição de Som: Sofia Dantas
Melhor Fotografia: Aluga-se
Prêmio de Originalidade: Sombras em Aluga-se

PRÊMIO CHUCHU DE OURO


Pior Filme: Curitiba, eu te amo
Pior Direção: Curitiba, eu te amo
Pior Ator: Cícero (Curitiba, eu te amo)
Pior Atriz: Repórter de Curitiba, eu te amo
Pior Clichê: música do filme 007 em Patacoada
Pior Edição de Som: Curitiba, eu te amo
Pior Trilha Sonora: O Lerdo