26.5.08

Suas palavras


Quando parou para tomar fôlego, aproximou-se um velho que se sentou ao seu lado; trazia em suas mãos uma caderneta de capa de couro, já velha, com as pontas meio puídas. Do bolso da camisa retirou um lápis algumas vezes apontado com a ponta bem feita. O velho abriu a caderneta anotou a data na primeira folha em branco seguinte às escritas e encarou-o. Fitou seu olhar vago, sua face triste e abatida, seu corpo tenso e lhe perguntou: que faz aqui?
Ele mergulhou o olhar no horizonte, deixou os olhos marejarem de lágrimas, e falou meio engasgando: esqueço... Deu um breve suspiro e o velho perguntou-lhe de novo: como veio até aqui? Ele suspirou, inspirou fundo numa tentativa de despistar o choro da garganta e disse: vim andando. Veio andando umas boas léguas e meia.
O velho então pediu: escreve aqui no caderno. Ele tomou a caderneta na mão, e por longas linhas escreveu o que sentia e como sentia e porque sentia e quanto sentia, escreveu tentando vencer a dor dos pés cansados e do corpo estafado. Escreveu em linhas tortas e letra garranchada, difícil firmar o pulso.
O velho leu cada frase, meditou cada palavra e disse-lhe: não continue... volte; apenas volte. E antes dele tomar o rumo da volta, o velho rasgou a folha escrita por ele e entregando-lhe completou: sãos suas palavras, deve levá-las consigo.


Imagem retirada de "The line between".

1 comentários:

Anônimo disse...

eu digo mais, vire a página e escreva outra história, ainda melhor.