5.2.10

As dez pragas de Curitiba


Primeira – Às cinco da manhã o Senhor mandou o sol e Curitiba amanheceu com o astro a pino. E nessa hora o termômetro da Rua das Flores marcou quarenta e cinco graus e quebrou. As estátuas de Getúlio, Rui Barbosa e da Maria Polenta derreteram no pedestal; o Marechal de Ferro ficou com os olhos mergulhados no bronze liquido.
Do rio Belém subiu os odores pustulentos e os lambaris do parque Barigui retesaram na água em ebulição. Dos macacos do Passeio Público sobrou-lhes apenas a carcaça; do jacaré-do-papo-amarelo nem a história sobrou. Os pinhões estouraram nas praças em pipoca.
Os sinos da Catedral soaram em marcha fúnebre. Dom Pedro Fedalto evaporou-se na batina. Rafael Greca afogou-se na gengibirra, tarde demais. As putas da Visconde tentaram se esconder sob as marquises, mas foram vaporizadas – sobrou-lhes os vinténs da noite passada.
As gentes tiveram bernes, pústulas, uma e outra chaga. Porém eles sobreviveram, porque esta era a primeira das pragas que lhes mandaria o Senhor.

Imagem de Xavi Heredia.

1 comentários:

Katrina disse...

São paulo tem recebido isso em triplo, sem falar do ensaio para o próximo dilúvio