25.11.09

O dia do pensamento mágico


Ele tinha de tomar uma decisão. Uma difícil decisão. Tão difícil, que este adjetivo ainda carece de peso para expressar quão decisiva era a decisão. Estava por demais indeciso. Como sempre fora. Existia nele uma ambivalência desastrosa para sua autocompreensão, um joguete dos infinitos pares binários antagônicos que o deixava com dúvidas e imerso numa confusão.
E sem perceber, sobre sua cabeça havia surgido um balão, daqueles balões de histórias em quadrinhos. Um grande balão de pensamento e dentro dele, o sinal da dúvida: a interrogação.
Sua primeira decisão foi, na verdade, uma fuga. Resolveu partir sem rumo, imaginando que a solução aparecesse de mágica. Porém, não pôde fugir às escuras. De longe as pessoas avistavam, por entre os prédios e árvores, o enorme balão e, curiosas, seguiram-no.
Primeiro seguiram seus amigos, depois os aparentados e, lá pelos últimos, um e outro desconhecido. Embora não soubessem o problema ou o cerne da dúvida, ajuntaram-se a ele. Tentou se esconder numa mata, entrou nas galerias subterrâneas, enfiou-se em becos e porões sem conseguir despistá-los. Consentiu, por fim, que o seguissem.
Caminhou até chegar a um canyon. E ali sentou-se. Aqueles pessoas todas sentaram-se também e se colocaram a observar o balão. Que ainda era de pensamento. Que ainda continha a interrogação. Que denotava hesitação. Pois ele hesitava e já tinha o rosto abatido, os olhos afundados na face, as olheiras pesadas, o olhar enuviado, o corpo rijo de tenso.
De repente ouviu: “decide-te, porque estamos aqui para apoiar-te qualquer seja tua decisão”. Ao virar-se para averiguar de quem partia a voz, viu surgir sobre a cabeça de alguém um balão. E apareceu outro, e mais outro um mais aqui e ali. Sobre todos apareceu um balão de pensamento. E dentro deles se desenharam exclamações.
Olhou todos aqueles balões e sorriu, porque nesse exato momento realizou qual decisão deveria tomar.


Imagem de autoria desconhecida.

2 comentários:

e-Chaine disse...

...E da decisão, certamente, surgiria uma outra e uma outra e outra e mais outra...
Sempre teremos decisões sobre decisões. Isso faz do homem, algo competente, ainda que haja a hipótese de irracionalidade intrínseca na - própria - decisão. Quanto à dúvida, e natural, até, tê-la.

Gostei. Eu volto!

Márcio Bergamini disse...

Mas qual era a decisã, ó gajo?!

????
!!!!!

=D