21.6.09

Outros abraços


De pelúcia e lacinho vermelho numa das orelhas. Os bracinhos era um tanto maiores, para que pudessem abraçar um ao outro. Duma forma cálida, representavam os cachorrinhos o amor deles e assim como as pelúcias haveriam de estar abraçados sempre.
Mas ele teve uma ideia: enquanto ficaria com a cachorrinha, ela levaria o cãozinho e mesmo que não estivessem juntos – trariam a lembrança do outro. E o espaço vazio do abraço de cada bichinho surgido pela falta do par seria preenchido por esta lembrança. Assim estariam, os brinquedos ou eles, sempre abraçados.
Quando cada um seguiu seu rumo, ficou o vazio no abraço roto de cada cachorrinho e também um desenho triste na face peluciada. Não mais voltariam a se atarem envolvidos, não mais um seria o par do outro. Até o lacinho vermelho perdeu o brilho.
Fitava a cachorrinha tenso e culpado, talvez porque visse nos olhos dela seu reflexo triste, mas estavam ali os dois, companhia e consolo das horas paradas. E sobreveio-lhe que precisava de se apartar dela.
Preparou uma pequena barca e lá colocou a cachorrinha; um impulso ao mar e barca partiu. Não podia garantir de que a barca não naufragaria como não podia garantir que estaria ali se regressasse. No íntimo, desejava que o vazio se preenchesse e que aqueles braços se encontrassem em outros abraços.




Imagem: "Abraço", de Cibele Krukoski.

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