28.7.07

Felicidade vencida


Abriu os braços para sentir a brisa que ventava no alto daquele prédio. Não era bem uma brisa, era um vento intenso, forte e envolvente, um abraço frio, daqueles que arrepia os pelinhos dos braços e ouriça a nuca, mas não frio a ponto de gelar a cara. De braços abertos, o vento tremulava a camisa xadrez como bandeira e agitava o cabelo longo, querendo carregar os fios acastanhados.
Inclinou-se a frente muito sutilmente, pequenos graus de desafio ao vento: quem venceria ele ou o vento? Às vezes o vento dava sinais de desertar, de render-se incondicionalmente à batalha vencida; uma estratégia de guerra para reunir forças e voltar arrasador. Contudo, no meio dessa querela, descobriram-se amigos, ele e o vento.
Despiu-se para sentir a intensidade do vento, para sentir cada golpe, cada corrente tocar-lhe todas as partes de seu corpo e envolvido pelo vento, inclinou-se a ponto de vencer a resistência, inclinou-se entregando-se a um lépido momento entre o limiar da vida e da morte e deixou-se cair do alto daquele prédio, rompendo o vento e deixando-o conduzir-lhe à felicidade vencida; entregou-se ao vento, que a cada sergundo tornava-se mais intenso.

Imagem de autoria desconhecida.

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