18.3.09

Última chamada


Soou o apito. Última chamada. Todos a bordo, gritou o bilheteiro. E todos apressaram o embarque. Menos o homem, que permaneceu sentado. Enquanto furava as passagens dos que embarcavam, o bilheteiro notou o homem inerte e se deu conta de que há anos ele estava ali, sentado naquele banco. Embora tivesse um bilhete, nunca demonstrou que fosse embarcar. Pouco depois, aproximou-se do homem e perguntou-lhe: o senhor não vai embarcar?
O homem olhou para o horizonte, fitando a entrada da estação, como se esperasse alguém. O bilheteiro continuou: é o último trem, quero dizer, é o último mesmo... não haverá mais trens partindo. O homem encarou-o ensimesmado, porém não perplexo. O bilheteiro completo: última chance: ou o senhor vai, ou o senhor fica.
O homem levantou-se, caminhou alguns passos e novamente encarou ao longe a entrada da estação. Perdeu-se alguns minutos, ninguém viria, não haveria de quem se despedir. Retirou do bolso um bilhete, velho, um tanto amassado, porém sem data marcada. E embarcou.
Partiu sabendo que não mais voltaria. Partiu e não levou bagagem nem o pó seco daquele lugar. Partiu porque era preciso; partiu decidido, sem a promessa do retorno breve.




Imagem retirada de: http://deiatatu.wordpress.com

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