14.9.08

Tão pó, tão só


Tudo o que tinha guardava numa pequena lata de alumínio; coisas que eram sua vida, cada qual com seu significo, mas miudezas, pequenas lembranças e experiências, porém que lhe fizeram ser o que é.
E para onde ia, carregava a lata, que por causa das estampas, parecia uma casa, porta e janelas nas laterais, a tampa desenha de telhas de barro. Vez por outra abria a lata e remexia suas coisas, com olhar saudoso, e fechava. Certeza daquilo que era sólido e certo.
Numa dessas aventuras lata adentro, tão logo a destampou, começou a ventar, dum vento forte, vigoroso, que aumentava. Na dúvida se fechava ou dali corria, colocou a mão sobre seus pertences para impedir que o vento os tomasse consigo, mas o vento era forte demais e venceu a resistência; varreu dali não só as coisas mais leves como despedaçou tudo o que estava protegido.
Levou-os longe, espalhando-os pelos cantos e curvas ermas e ele sequer pode agarrar entre os dedos um mínimo pedaço de si. Sem sua latinha, sem nada, sem aquilo que lhe fazia ser o que era, tudo pareceu tão pó, tão só.


Imagem de autoria desconhecida.

2 comentários:

Anônimo disse...

o velho sentimento do "vazio"... parabéns!
não pare de escrever... agora virei fuçar aqui mais vezes!

:***

Anônimo disse...

"Vc me faz parecer menos pó, menos pozinho".

Bjo, manito.
<3