16.8.08

Os robôs


Eram todos robôs, feitos de chapas de aço e com mil circuitos eletrônicos por onde passava aquilo que chamavam de vida. Tudo estritamente mecânico ou eletrônico, exceto os fluidos. Havia robôs quadrados, cilíndricos, espiralados, piramidais. E para tudo um botão ou a combinação de alguns botões: se tinham fome, bastava apertar o botão azul para findar a sensação, se estavam com frio, o botão azul emanava uma onda térmica, se queria queriam casar, o botão vermelho fazia o robô despertar para a paixão.
Um dia sem mais, um robô descobriu-se apaixonado por uma robô, sentiu-se atraído por seu corpo rombóide, seus lábios elípticos inspiravam-lhe beijos sonhados e ele se viu amando-a. Mandou-lhe poemas apaixonados – sim, os robôs também escrevem poemas – rosas, mimos feito de sua própria habilidade, tencionando conquistá-la, mas ela fugia quando o via na rua e sequer correspondia aos seus jogos do amor.
Um dia recebeu um carta; ela não o amava. No entanto, até para findar o sentimento do amor os robôs possuem um botão, que o mesmo que o aciona, e o robozinho buscou em sua casa seu manual de instruções, ou melhor, o manual de instruções dos robôs do seu modelo e número de série, para poder localizar o botão do amor e assim por fim ao sentimento do amor que tinha por aquela robozinha.
Segundo o desenho do manual, o botão ficava no compartimento às costas e era o terceiro da última fileira. Eis que ao abrir o compartimento não encontrou o botão do amor e aí ficou sabendo que apenas o seu número de série, ou seja, apenas ele, havia sido fabricado com um defeito: não possuía o botão do amor.
Ao saber que teria de dês-amar aquela robozinha do mesmo modo que passou a amá-la, sem poder desligar-se em seu botão do amor, se deu conta de que não era um robô, era humano.


Imagem: robo Ding-Bo, brinquedo dos anos 80.

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