3.12.07

Castelinho de areia


Era criança e, como toda criança, tinha uma família e, como toda a família, participavam de festas de fim de ano e, como todo fim de ano, viajavam à praia e, como em toda a praia, havia crianças brincando de construir castelo de areia e ele era uma dessas crianças. Nem se lembrava das incansáveis idas e vindas de lá para cá e de cá para lá a trazer incansável o baldinho cheio de areia.
Havia uma alegria declarada, alegria de criança que vê o simples empreendimento duma singela brincadeira tomar forma e viço, e trazer à tona as memórias o tempo de criança era-lhe mais que uma alegria, uma felicidade, pois era essa felicidade da meninice, do tempo das idades de construir castelinhos de areia, a fuga das durezas do tempo que a vida desenrola distante da infância.
Deixava-se perder nos recônditos das lembranças, inclusive transportado para lá, podia sentir o cheio da areia molhada surgindo enquanto cavava o fosso, a areia grudando em suas pernas e até a pequena pinçada que certa vez lhe atacou um siri e nessa hora seu dedo latejou de dor, lá e aqui nas lembranças.
Desta vez, a lembrança adiantou alguns dias: estava tão perdido terminando a última e mais alta torre do castelo quando ouviu o badalar de sinos ao longe e em pouco tempo as crianças na orla se alvoroçaram; ele mirou a direção de onde vinha o barulho e viu o papai-noel cercado de meninos e meninas, que ganhavam dele balas e pirulitos e então lhe veio à mente: era natal! e sem querer descuidou do castelo uma onda forte invadiu e encheu o fosso do entorno e trouxe abaixo todo o castelo, esfacelando num golpe seco a torre ainda inacabada, que se dissolveu n’água – em vão quis ampará-la.
Chorou, como toda a criança chora diante de revés, e despertou das lembranças com as lágrimas escorrendo-lhe no rosto e lhe abateu a angústia de quem deixa a porta da memória aberta e não percebe a entrada dos invasores indesejados. E despertado olhou ao seu redor e viu que era natal e desatou num choro compulso, tentou secar a face com suas mãos tremulentas e velhas, mas não foi possível: por entre seus dedos ainda escorria alguns grãos de areia.


Imagem de D Sallary.

2 comentários:

Anônimo disse...

eu achei bem bom o texto. vim parar aqui meio por acaso, e tomei a liberdade de dar a minha opnião.
eu nao sei quantos anos tu tem, mas acho que deve ser jovem. o conto é bem escrito, mas em algumas partes ainda falta ficar mais natural, sem palavras pomposas e forçadas. tu usa bem as vírgulas no começo do texto, e mais pro final quando não usa tanto elas fica com um ritmo ótimo (até arriscaria dizer pra tirar algumas das que sobraram).

está favoritado. talvez eu comente por aqui alguma outra hora, mas nao se incomode, eu nao sou ninguém importante. :)

Anônimo disse...

Luisa,

esse conto não ficou como eu queria... foi meio complicado escrevê-lo. De fato, precisava tirar essa idéia da cabeça e ver no que dava. Não é nem de longe meu preferido, tanto porque costumo me dedicar os contos longos, mas não posto no blog por acho q ficaria cansativo de ler.

Vc tem sempre liberdade de comentar, é um retorno importante, que poucos dão e por isso fico feliz em tê-lo.

As vírgulas são uma doença pra mim, uso para separar as idéias e deixar a narrativa barroca e rocambolesca, o que ajuda a construir o fluxo de pensamento dos personagens e narradores. Mas ainda preciso achar um meio termo entre o bom e exagerado.

Sou novo sim, 25 anos... e meu estilo é essa mistura erudito popular...

Sugiro que vc leia os outros contos, acho q vc se acostumará e os outros são melhores... e comente sempre que quiser...

Obrigado pela visita.