29.8.10

Construção


Era véspera de véspera de Natal, mas a obra não podia parar. Alheia à cidade em ritmo de compras, ele assentava os tijolos como de habitual, embora as ideias se perdessem na ceia com a família amanhã. Talvez ainda conseguisse comprar o presente dos filhos na rodoviária.
Assim que terminou o almoço foi a um telefone público e ligou para casa:
“Chego aí amanhã cedinho”, avisou.
Empolgou-se; o coração, feliz. Colocou o telefone no gancho. E de ímpeto, atravessou a rua, sem ver o ônibus biarticulado que vinha.
A ironia é que ele se chamava Natalício.

Imagem de autoria desconhecida.

3 comentários:

Laura Kerstenetzky disse...

Triste e envolvente.

Márcio Bergamini disse...

"morreu na contra mão atrapalhando o tráfego..."

Kore disse...

Adorei.