20.8.10

Alucinação


Não te vi chegar; ainda sonolento me dei conta de tua presença em minha cama – você me abraçava e me dava conforto. Lembro-me de que deitei sozinho, procurando preencher o espaço que viria a ser teu esparramando-me na cama. Jamais sonhei que num átimo você, sorrateiro, me faria companhia.
Ainda me pergunto como conseguiu se espremer no pouco espaço que havia; de tanto dormir sozinho fiz do vazio um canto suficiente para mim. De tanto esperar por alguém, deixei de ficar acordado esperando a tua chegada.
Mas você veio, do longe desconhecido e eu não te recebi. Deliciosamente, você se achegou em meus braços, invadindo o lugar reservado que roubei de você. Teu calor aquiesceu meu coração e tive a certeza de que você veio para não partir.
Às vezes penso que estou atordoado, dopado com algum elixir exótico, que tua presença é uma sublime miragem, que o teu toque é algum efeito misterioso. Prefiro assim; prefiro tua presença inventada à tua ausência verídica. E espero que você tenha trazido mais deste elixir, porque deste efeito alucinógeno quero não acordar.


Imagem de autoria desconhecida.

3 comentários:

Laura Kerstenetzky disse...

A escolha de um não sofrer.

Márcio Bergamini disse...

é sempre uma ilusão. sempre.

Kore disse...

"Prefiro tua presença inventada à tua ausência verídica". Essa merece ser lembrada.