28.7.07

Fuga de si


Havia uma angústia, um ar seco, sufocante, denso, poeirento... e a angústia se lhe era maior ao gritar e sentir a voz entalar enviesada na garganta ecoando o grito de socorro dentro de si. E era assim: fugia das multidões, pávido de se ver refletido nalguns rostos transeuntes, se ausentava dessa horda histérica de iguais a si mesmo, numa falsa intenção de ausentar-se de si, anulava-se nas horas inconscientes praguejando contra sua incontrolável consciência. Um processo de fuga, como se fugindo dos outros conseguisse fugir de si – entender aqueles humanos no seu mundo era não entender a si e se buscava minimamente olhar-se no espelho e poder responder suas perguntas. Assim, nessas horas de incompreensão muda é que entrava em si, introspectivo e procurava pelo seu perdido nalgum canto lúgubre. Perdido nesse labirinto vinha-lhe a vontade de gritar, um calor sonoro que lhe subia o corpo, desde os poros da pele, mas a passagem travada lhe impedia de pôr o grito fora e aquele mal inaudível lhe queimava o âmago, lhe doía a alma e lhe angustiava tirando-lhe o rubor da face e a vida dos olhos.


Imagem: Fuga, de Henrique Augusto.

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