Quando levou a primeira rasteira do Dia, às nove e meia da manhã - não, ele não caiu por distração, de fato o Dia, numa certa traquinagem, resolveu lhe derrubar logo do início da manhã - decidiu viajar a seu mundo, um lugar deserto, colorido com suas próprias alegorias fabularias. Era-lhe simples, bastava com a mão abrir a fenda no espaço e passar pro lado de lá sorrateiramente, sem dar motivos ou permitir que o vissem migrar. Lá dormia durante uma parte do tempo, tempo que corria mais rápido, numa velocidade ideal para fazer o dia passar a galopes e assim enterrá-lo em definitivo no mausoléu do passado. Outra parte do tempo, ficava a conversar consigo, mas o seu eu desatinado, incompreensível e inacessível. Ali vivia histórias de reis e nobres, histórias de prêmios ganhados, de amor desejados, ali era o que era em sua essência. O asozinhar-se lhe permitia ao menos curar-se do tombo inesperado da manhã. Ali ficou um tempo indeterminado a nós, um tempo em que pôde resetar sua memória e alegrar-se a ponto de poder retornar ao mundo, mesmo desejando ser só eternamente.
Imagem de autoria desconhecida.
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