Julian Gasmar fitava o vaso; já não havia mais a escora e a rosa, mas a terra estava molhada; pois lhe deitara água o botânico. Ele sabia que tinha de preparar o vaso para a nova flor, mas lhe doía a certeza de não ter conseguido salvar a rosa. Dor que lhe varava o corpo e alma e o purgava em frustração. Tantos dias cuidando daquela flor, tantos dias regando, tantos dias adubando, tantos dias resguardando-a do sol e ainda assim ela morreu.
Dela, restou apenas o vaso com terra. Não guardou sequer uma pétala ressequida. Porém, percebia seu perfume nas horas mais neutras do dia; de soslaio, sentia a presença da rosa à janela; de descuido, enchia o copo de água. Em seus olhos, via-se o luto.
“Deves esquecê-la, Julian”, disse o botânico.
“Difícil não é esquecer; difícil é sempre lembrar”, respondeu Julian Gasmar.
Imagem de Peter Andrews.
4 comentários:
Pensei num monte de clichês para comentar esse texto. Mas o melhor é dizer:
putaquepareocomodóilembrar.
Fantástico!
=]
Me dói é nunca ter tido uma bela flor para doer quando lembrar.
PS: este conto não me é estranho. hehe
Guss... este conto faz parte da saga da rosa, que vc já leu algumas partes... um dia mando-te ela completa e na ordem lógica.
Difícil é lembrar... essa é a verdade mais dolorida e reticente que há.
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