Sonhou ele com um guri. Duns cinco anos; aloirado. O guri sempre caminhava alguns passos a sua frente. E lhe chamava de avô. Ele o seguia, como se precisasse protegê-lo ou cuidar de seus passos.
O garoto, a cada pouco que andava, abaixava para pegar as quinquilharias da rua: uma concha aqui, um graveto ali, uma pedrinha verde brilhosa reluzindo o sol, uma folha avermelhada de ressequida. Andava seus passos meninos e conferia se o avô o estava cuidando.
Ele o acompanhava; mãos nos bolsos, ideias incertas. Tão só olhava o garoto caminhando, sempre à frente, por aquele caminho que se fazia eterno. Apenas caminhavam, sem saber o rumo, o destino, o propósito, o porquê. Mas lhe sobreveio a súbita certeza de que, quando parasse de caminhar, o menino seguiria adiante: de algum modo caminharia, um pelo outro, para o infinito.
No entanto, foi o guri quem parou e esperou o avô se aproximar. Uma das mãos segurava as coisas que colheu. A outra entrelaçou os dedos do avô. Encarando-o, disse:
“Vô, compra um sorvete pra mim? Compra? De chocolate”.
Despertou sentindo o solavanco do ônibus. E sorriu envergonhado pelo modo como acordara e porque achou peculiar sonhar-se velho. À sua frente, um menininho loiro, com a boca lambuzada pelo sorvete de chocolate que segurava, lhe sorria. Então levantou-se, acariciou o guri e lhe disse:
“Prazer, meu nome é Julian”.
O garoto, a cada pouco que andava, abaixava para pegar as quinquilharias da rua: uma concha aqui, um graveto ali, uma pedrinha verde brilhosa reluzindo o sol, uma folha avermelhada de ressequida. Andava seus passos meninos e conferia se o avô o estava cuidando.
Ele o acompanhava; mãos nos bolsos, ideias incertas. Tão só olhava o garoto caminhando, sempre à frente, por aquele caminho que se fazia eterno. Apenas caminhavam, sem saber o rumo, o destino, o propósito, o porquê. Mas lhe sobreveio a súbita certeza de que, quando parasse de caminhar, o menino seguiria adiante: de algum modo caminharia, um pelo outro, para o infinito.
No entanto, foi o guri quem parou e esperou o avô se aproximar. Uma das mãos segurava as coisas que colheu. A outra entrelaçou os dedos do avô. Encarando-o, disse:
“Vô, compra um sorvete pra mim? Compra? De chocolate”.
Despertou sentindo o solavanco do ônibus. E sorriu envergonhado pelo modo como acordara e porque achou peculiar sonhar-se velho. À sua frente, um menininho loiro, com a boca lambuzada pelo sorvete de chocolate que segurava, lhe sorria. Então levantou-se, acariciou o guri e lhe disse:
“Prazer, meu nome é Julian”.
Imagem: Kaelen, de Nicholev Vintage Textures
2 comentários:
Fico pensando nisso, quando Ficar velha, manterei as crianças, a juventude em si, longe de mim
Freud explica! =D
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