30.11.09

A hora atrasada


Já eram horas passadas, de estrelas e lua desenhadas no céu. E aquele rapaz vagueava sozinho, sob atenção curiosa da Noite que olhava seu rumo incerto, à esmo e soturno e distraído.
Perguntou-se, a Noite, como inocente criança, aonde ia aquele rapaz que nunca ardera em amor. E se compadeceu: de tristeza apagou as estrelas e minguou a lua. E ali, no breu sufocante, confabulou.
O rapaz sentiu uma forte rajada de vento, virou-se e viu ao longe alguém caminhando. E, acendendo em carreira, as estrelas voltaram a brilhar. Ela aproximou-se dele, tomou suas mãos e aconchegou-se em seu peito. Ele tocou seu rosto e beijou-a.
A Noite, sentada em seu trono, perdeu-se a observá-los – eternos apaixonados. Perdeu-se tão demasiado nas suas horas que não notou no horizonte o Dia vindo reclamar seu reinado. Quando o viu empunhando seu estandarte dourado, espalhando em raios o brilho do alvorecer, correu até ele e intercedeu para que aquelas horas continuassem paradas.
A manhã seguinte, complacente, amanheceu uma hora atrasada.


Imagem de autoria desconhecida.

3 comentários:

e-Chaine disse...

... E amanheceu! Isso foi bom, de fato? Rs.

Obrigado pela visita. Add vc, também, nos meus! Seja bem-vindo de volta, quando quiser.

Abração.

Márcio Bergamini disse...

Enternecedor... muito mesmo.

LUDMILA BARBOSA disse...

Absolutamente cativante, fato!!!