10.8.08

Canarinhos


O casal de canarinhos pulava sassaricando sem muito se importar com o cárcere e nem esquivavam arredios quando a mulher aproximava-se da gaiola para alimentá-los ou trocar o jornal. Eram sua distração, quando não estava enchendo os cochos de alpiste e outras sementes, a mulher colocava-se diante deles para o ouvir o trinado agudo dos bichinhos. Às vezes um tímido piado dum deles já atraia os cuidados curiosos dela.
Os canarinhos foram novidade para os filhos, já adultos, que jamais pensaram em ver a mãe tão dedicada a eles, já que por muito tempo relutou em ter algum animal de estimação – dão muito trabalho, dizia. Mas a mulher com eles estava como se estivesse feliz outra vez e deles cuidava com cautela materna que os impedia de fugir, mesmo que isso significasse colocar alguns cadeados nas portinholas da gaiola.
Um dos filhos perguntou ao pai, como que desejando roubar uma informação mais preciosa: então a mãe comprou canarinhos? Sim, respondeu o pai, depois que você e teu irmão alçaram vôo à vida, ela comprou os bichinhos para alegrar a casa.


Imagem de autoria desconhecida.

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