O sol marcava o meio-dia quando chegou à casa da avó. Depois de anos a senhora abandonaria aquela casa; ia ajudar-lhe com a mudança. Percorreu o jardim abandonado contornando a casa até alcançar a porta dos fundos. À escuridão da sala, um golpe de luz fazia breu. A avó não estava. Abriu a geladeira e pegou um jarro d’água, serviu-se um copo e foi à sala. Do sótão, o avô perguntou-lhe: é você?
Nada respondeu. Abriu uma janela. Atravessou a sala e abriu outra, mas apenas em meia veneziana. Sala grande, alta, aconchegante, com móveis antigos, alguns cobertos com lençóis, outros com pó. Duma gaveta aberta, tomou um álbum. Disse-lhe o avô: achei umas fotos antigas que coloquei nele.
Sentou-se no sofá e o abriu. As primeiras fotos mostravam uma época que só existia na lembrança de algumas pessoas: uma família unida, reunida e amiga. Não havia fotos decerto das desavenças, das invejas, dos conflitos que corroeram aquele tempo já apagado da lembrança da maioria. Outras perpetuaram um grande almoço, agora com os netos. Os retratos mais recentes congelaram o casal vivendo em famílias diferentes. Uma única foto persistia em avisá-los família: um lanche dos avós com os netos, guris.
Não havia nada de novo naquele álbum. Havia, porém, um tempo passado que evoluía revelando a decadência familiar. Havia um tempo passado tolo, um tempo passado que não pode ser revivido para amanhecê-lo melhor. Um tempo passado que causa um mal-estar súbito, que retira as ações e mergulha no devaneio e na busca dos porquês. Um tempo passado autofágico.
Quando o avô desceu do sótão, dormia no sofá, desajeitado. Numa das mãos, a foto do avô, como se o agarrasse para si. O avô aproximou-se dele; uma forte brisa entrou na sala, trazendo uma veneziana de madeira que bateu em estrondo na janela. O fraco vento arrepiou os pêlos de seus braços. O avô beijou-lhe a testa e um arrepio correu-lhe a coluna, estremeceu-lhe o corpo. Acordou e deparou-se com a avó. Que lhe disse: calma deve ter sido apenas um sonho; talvez sonhaste com teu avó.
Olhou então a foto do avô em suas mãos. E recolocou no álbum aquele tempo passado que havia despertado.
Nada respondeu. Abriu uma janela. Atravessou a sala e abriu outra, mas apenas em meia veneziana. Sala grande, alta, aconchegante, com móveis antigos, alguns cobertos com lençóis, outros com pó. Duma gaveta aberta, tomou um álbum. Disse-lhe o avô: achei umas fotos antigas que coloquei nele.
Sentou-se no sofá e o abriu. As primeiras fotos mostravam uma época que só existia na lembrança de algumas pessoas: uma família unida, reunida e amiga. Não havia fotos decerto das desavenças, das invejas, dos conflitos que corroeram aquele tempo já apagado da lembrança da maioria. Outras perpetuaram um grande almoço, agora com os netos. Os retratos mais recentes congelaram o casal vivendo em famílias diferentes. Uma única foto persistia em avisá-los família: um lanche dos avós com os netos, guris.
Não havia nada de novo naquele álbum. Havia, porém, um tempo passado que evoluía revelando a decadência familiar. Havia um tempo passado tolo, um tempo passado que não pode ser revivido para amanhecê-lo melhor. Um tempo passado que causa um mal-estar súbito, que retira as ações e mergulha no devaneio e na busca dos porquês. Um tempo passado autofágico.
Quando o avô desceu do sótão, dormia no sofá, desajeitado. Numa das mãos, a foto do avô, como se o agarrasse para si. O avô aproximou-se dele; uma forte brisa entrou na sala, trazendo uma veneziana de madeira que bateu em estrondo na janela. O fraco vento arrepiou os pêlos de seus braços. O avô beijou-lhe a testa e um arrepio correu-lhe a coluna, estremeceu-lhe o corpo. Acordou e deparou-se com a avó. Que lhe disse: calma deve ter sido apenas um sonho; talvez sonhaste com teu avó.
Olhou então a foto do avô em suas mãos. E recolocou no álbum aquele tempo passado que havia despertado.
Imagem de autoria desconhecida.
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