2.9.08

A musa e o poeta


Às vezes falha-me a pena, acomete-me a estranha sensação de sentar ante a folha em branco e sentir as palavras impulsionarem sem levantar vôo. Como também falha-me a coragem, a capacidade de me entregar aos prazeres do mundo, de dizer as palavras singelas a ela; um medo pueril, uma dúvida acanhada e malévola, uma incapacidade de deixar minh’alma falar. Procurei as respostas certas às minhas perguntas errada, até que me dei conta de que a todo poeta inspira-lhe uma musa.
Saí pelo mundo à procura da minha, numa viagem tresloucada, feito um desvairado a caçar nos olhos de cada mulher a inspiração para minha arte. Tateei no escuro, embrenhei-me por becos e caminhos nunca dantes pisados, no entanto minha musa parecia mais bem escondida do que imaginava. Desenhava-a linda, capaz de preencher meu vazio, de acalentar minhas madrugadas insossas, de alumiar meu pequenino coração.
Ao vê-la perguntei-me: serão os poetas cegos? Minha musa estava ao meu lado, linda como a pintei: de cabelos negros, longos e luzidios, dum mesmo brilho cálido em seus olhos puxados, e pele morena do sol. Minha musa pegou minha alma e me levou pela noite de lua cheia, fulminou certeiro meu coração: fiquei estatelado, hipnotizado feito estátua de pedra. Minha musa me beijou, um beijo carinhoso... gostoso – fiquei querendo mais. Minha musa me inspirou, mas sou mau poeta: não verso, proseio.


Imagem retirada de DecksittersPhotoBlog.

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