17.4.08

O caderno dos amores traídos


Andava na rua e de repente não conseguiu trocar o passo; a perna ficou pesada demais e ao mesmo tempo dormente. Tentou outra vez e de novo sentiu a perna arrastar e travar, levou as duas mãos à coxa na intenção de forçar o movimento, porém as mãos não firmaram na perna.
Ainda assim teimou em trocar o passo e foi quando caiu embolando em si mesmo. Já não sentia os membros inferiores e também não conseguia controlar as mãos. Ao olhá-las percebeu que as mãos estavam desaparecendo, apagando lentamente, a começar pela ponta dos dedos. Fitou as pernas e viu que os pés já haviam sumido.
De lento, ganhou velocidade e o que quer que fosse aquilo avançava rápido, devorando as pernas e os braços, subindo pelo tronco, atingindo o peito. Que sufocava e apertava.
No mesmo instante, num lugar um tanto longe dali, uma mulher, de face contraída entristecida, de seu caderno dos amores vividos, apagava-o de sua existência.


Imagem de autoria desconhecida.

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