No princípio havia o nada e Deus disse: “faça-se Curitiba” e Curitiba foi feita. Então Deus separou a terra das águas. Às terras, Deus jogou cimento e depois esburacou e chamou de “rua (sem calçada)”, as águas Deus colocou no céu e chamou de “chuva” e houve uma tarde e uma manhã.
No segundo dia, Deus criou as árvores, matos e lagos e chamou-os de Parque Barigui, Jardim Botânico, Parcão do MON. E viu que era bom. Depois Deus criou a praça Santos Andrade, Tiradentes, Rui Barbosa e todas outras e também viu que era bom. Então Deus disse: “que se encham as praças de pombas e os parques de ratazanas e quero-queros e houve uma tarde e uma manhã”.
Ao terceiro dia Deus fez um luzeiro e o colocou no céu e disse: “ardei feito o fogo e esturricai Curitiba nos dias sem chuva” e viu que era bom. Então Deus criou o verão, outono, inverno e primavera e a neblina e disse: “alternai-vos e sucedei um ao outro em quinze minutos – todos os dias”, e viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã.
No quarto dia Deus criou os manos, os playba, os coxas, os velhos da rua XV, os pedintes de ônibus e todos os tipos de curitibanos. Aos ajuntamentos de curitibanos Deus chamou Boqueirão, CIC e Inter 2. Então Deus criou a passagem a R$ 1,00 e disse: “ide e infestei os parques e as praças todos os domingos”. Houve uma tarde e uma manhã.
No quinto dia Deus criou o natal, o ano-novo, o carnaval e a BR 277 e disse: “faça-se Caiobá e Guaratuba e as praias lotadas, a rodovia engarrafada, o bicho de pé e o pedágio” e assim foi feito. Houve uma tarde e uma manhã.
No sexto dia, Deus criou o mau-humor e o colocou dentro do elevador, do tubo de ônibus e repartições públicas e disse: “curitibanos, falareis leiTE quenTE e não direis ‘bom dia’ ao vizinho ou porteiro; reclamarais do tempo, do trânsito e da cidade, mas só vós o fareis”. E viu que era bom. Foi uma tarde e uma manhã.
No sétimo dia, Deus contemplou sua obra, se retirou e nunca mais voltou.
Imagem: Centro de Curitiba (autoria desconhecida)