Partiria amanhã, não cedo, mas quando a noite começar a cair
e o breu ofuscar com lentidão o dia. Embora a felicidade fosse imensa, havia um
resquício amargo como se algo não terminasse tão bem quanto pretendia. Talvez
fosse aquela rosa na roseira que não ousou cortar. Às vezes dizia a si “quero
me ir daqui”, numa clara certeza de que algo de si teimava em ficar. Olhava
aquele lugar e aquelas pessoas e tinha a confirmação de que já protelara demais
a partida. Mas esse calor agridoce no coração o incomodava: não era saudade
tampouco tristeza; não sabia.
De fato não sabia que após
tantos anos e tantas pessoas inevitavelmente havia ficado um pouco de si em
cada uma daquelas paredes e daquelas pessoas que se construira uma ligação
eterna entre ele e o lugar e as pessoas. E estariam sempre presentes diante do
outro, a despeito da ausência e a despeito da partida.
Imagem de autoria desconhecia.