15.11.11

Passado



Ao procurar sua história no livro das memórias, abriu-o exatamente na página 404.

31.8.11

A rosa e o pôr do sol


Já se fazia fim de tarde e os casais chegavam à orla procurando o melhor lugar para ver o pôr do sol. Dizem que ali é vista mais bela para vê-lo se pôr. As pessoas chegavam e se acomodavam, sempre aos pares... abraçados, aninhados, embolados, lado a lado, menos Julian Gasmar, que estava sozinho. Mas também havia os que estavam em três ou quatro ou cinco e foi por isso que Julian Gasmar entendeu porque a praia se chamava “dos amores”.
Aos poucos o horizonte ficou vermelho, primeiro dum alaranjado suave até atingir a cor de fogo e ficar brasil. Era nessas horas que os amantes se olhavam e suspiravam, como se o pôr do sol lhes requeimassem com a flecha ardil do cupido. E foi nesse momento que Julian Gasmar sentiu um toque no ombro. Virou-se, mas nada viu. Pouco depois, sentiu uma coceira no braço: uma corruíra e junto dela uma rosa vermelha. O pássaro cantou e voou, mudando toda a paisagem.


Imagem: Pôr do sol, de Van Gogh.

20.5.11

Coleções


Noite de tempestade e a moça vestia sua capa de chuva transparente para ir ao quintal. Aliás, no armário guardava sua coleção de capas de chuva. No mesmo armário estava a coleção de guarda-chuvas, e ela tomou um azul-marinho. Correu ao quarto e tomou um pequeno frasco, que estava vazio em meio a outros cheios, uns de areia – coleção das areias das praias em que esteve –, uns de terra – coleção das fazendas e floresta por onde passou –, outros de grama, dos piqueniques que já lanchou. Tudo colecionava, canetas, borrachas, marca-páginas, despertadores, clipes, bloquinhos de nota, CDs, botões, esmaltes, chaveiros, moedas e selos. E também tampinhas de garrafa. Dirigiu-se até o portão de entrada e retirou do bolso um pequeno frasco deixou-o à chuva.
“O que faz?”, perguntou alguém.
A moça se assustou, não viu a pessoa se aproximar. Quando a fitou, teve dificuldade em enxergar com nitidez, por conta da chuva. Viu apenas um rosto muito pálido, coberto por uma capa preta tão longa que a barra arrastava no chão. Mesmo assim, respondeu simpática:
“Pego um pouco de chuva, para minha coleção de chuvas”.
A pessoa riu e disse:
“Também estou aqui por causa de minha coleção”.
A menina ficou interessada, empolgada perguntou:
“E o que coleciona?”
“Vidas”.
E a pessoa na capa preta foi embora com uma para sua coleção.

Imagem de autoria desconhecida.

9.5.11

A rosa e a poeira




A brisa logo virou vento forte, ainda agradável a Julian Gasmar. Trazia aquele aconchego de que tanto gostava. Mas era na curva da estrada que o vento arrastava a poeira do passado e no meio dela, bailando desconcertante, a pétala de rosa ressequida.


Imagem de autoria desconhecida.

11.4.11

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Imagem de autoria desconhecida.

25.3.11

Da fábula das horas que valem por minutos

para ti, porque te amo.


Se encontraram pelo olhar, de destinos cruzados. E seguiu-se o beijo e mais outro – de repente as roupas no chão. Aí, aprenderam a se conhecer: um tinha viagens a fazer, outro aulas a ministrar; um pendia a metódico, o outro um pouco despreocupado demais; um dormia no quarto escuro, o outro com a luz anunciando dia.
Em meio às obrigações de cada um, os minutos se multiplicaram e o dia ganhou horas a mais, posto que mesmo com viagens e aulas, palestras e oficinas, projetos e estudos, eles iam trilhando um caminho nunca dantes extraordinário.
No rodopiar dos dias, seguiram e os minutos se somaram e foram horas. Horas todas paradas, de eterno-sempre, de felicidade clandestina, de suspiros surrupiados, de uma coisa simples de sentir e difícil de palavrear, mas que não há ninguém que explique e quem não entenda.
Já eram tantas as horas, de algarismos enfileirados, que precisam eles dividir em dias, em semanas e em meses e eles somavam seis – sem adicionar as horas do dia de hoje e de ontem. E quando passarem as de amanhã e depois e todas as horas a seguir, haverão de dividir os meses em anos. Mas serão ainda aquelas horas paradas, nas quais o mundo gira apenas para os outros.
E quem olhe de cima, pairado à linha dos acontecimentos, verá que essas tantas horas valeram por minutos.


Imagem de autoria desconhecida.

3.3.11

7º Prêmio Rubens Mazza e Chuchu de Ouro

Interrompo a programação do blog para anunciar os vencedores dos prêmios Rubens Mazza e Chuchu de Ouro, do 11º Putz




PRÊMIO RUBENS MAZZA

Melhor Filme Trash: Cara, cadê meu Bráulio?
Melhor Filme: Um dedo de prosa
Melhor Direção: Gabriela Muller (Cara, cadê meu Bráulio?)
Melhor Ator: Arturo Marenda (Um dedo de prosa)
Melhor Atriz: Camila Amaral (Cara, cadê meu Bráulio?)
Melhor Ator Coadjuvante: Lucas Fritzen (por todas as participações)
Melhor Atriz Coadjuvante: Delma Mascow (The Clipfather)
Melhor Ator Inútil: Jason Brito Pessoa (Cara, cadê meu Bráulio)
Melhor Cena: Cantada do Mário em Cara, cadê meu Bráulio
Melhor Trilha Sonora: Porra, Dolores
Melhor Roteiro: Um dedo de prosa
Melhor Fotografia: Porra, Dolores
Melhor Edição: Porra, Dolores
Melhor cena "Ai, mi fodi!”: Meninas na cozinha em Putz for Dummies

PRÊMIO ESPECIAL MULETA DE OURO "O melhor momento é agora!" (em homenagem a Levi Crissi): Vinhada nos anos 80 em Um dedo de prosa


PRÊMIO CHUCHU DE OURO

Pior Filme: Ela e Eu
Pior Direção: Giovanna Jambersi (The Clipfather)
Pior Ator: João Felipe Matos (Ela e eu)
Pior Atriz: Jéssica de Oliveira (Floresta Direta)
Pior Clichê: Ela e Eu
Pior Edição de Som: Ela e Eu
Pior Roteiro: Ela e Eu


1.2.11

Da fábula da vida


Sentiu o toque no rosto e de instinto tentou abrir os olhos para atender, mas a luz feriu a visão. Tentou mais uma vez vencer o clarão. Desistiu. Sentiu de novo o toque e também um arrepio de frio, como se o ar do lugar o envolvesse e nele se aconchegou. Mais uma vez o toque na face e os olhos ainda se protegiam da luz. O peito reclamou em dor: faltava-lhe ar. Mais uma vez o rosto foi tocado e ouviu um barulho, sem conseguir decifrar o que era. Alguém chamava.
“Psiu... psiu...”
Direcionou a cabeça ao som, mas parecia atordoado, talvez pela luz em excesso e o ar em falta.
“Acorda menino...”
Abriu a boca na tentativa de aspirar o máximo de ar possível e sentiu a maior dor que haverá de sentir na vida. Como se um soco lhe tivesse atingido o diafragma e a dor explodiu pelo corpo. O diafragma saltou num espasmo e o pulmão encheu de ar e então chorou, um choro seco, doído, intenso.
“Isso menino”.
E descobriu a vida e o carinho nos braços da mãe.


Imagem de autoria desconhecida.

8.1.11

A rosa e o muro


Era um muro de quase três metros de altura e uns dez de extensão, duma pintura descascada escondida por uma roseira que já atingia o primeiro metro crescido. Avistada de longe, mais parecia um pedaço de nada salpicado de pontinhos vermelhos. E, mesmo de longe, Julian Gasmar sabia que eram rosas e este era o motivo dele passar em frente aquela casa todos os dias.
Apenas isso, ver as rosas; sem roubar-lhe um simples botão. Vê-las lhe enchia o peito duma calma corriqueira e uma breve felicidade estendida pelas horas seguintes.
Num desses dias, notou algumas pétalas rolando pelo chão algumas casas antes. Quando fitou o muro realizou que a roseira havia sido podada, decepada quase à raiz. Pelo chão as pétalas se misturavam aos galhos e folhas. Já distante, um jardineiro ia-se, exibindo a tesoura às costas na altura da cintura.
Julian Gasmar não se abateu: deixou o local e retornou em meia hora, munido de tinta e pincel. Algumas horas depois, o muro havia recuperado todas suas as rosas – só que agora ninguém seria capaz de rouba-las.


Imagem de autoria desconhecida.